Década 1960-2015: Interceptor de esgotos não existiria sem o alargamento da praia de Copacabana
Artigo retirado da revista SEAERJ Hoje, nº 25, páginas 13 a 16.
Principal obra de saneamento do Rio de Janeiro dos últimos 40 anos, o Interceptor Oceânico (IO) de Esgotos da Zona Sul demandaria o alargamento da praia de Copacabana, caso não fosse realizada para evitar as ressacas do mar que afetavam os edifícios da orla.
Integrantes da Comissão de Planejamento de Esgotos Sanitários (COPES), que funcionou onde fica a atual sede da SEAERJ, os Engenheiros Maurício Gomberg e Áttila Gonçalves Martins ambos sócios, frisam que o sistema IO com vazão média de 2,4 m³/s, está dimensionado para atender a saturação urbanística de toda a área contribuinte, da Glória a Copacabana.
Gomberg lembrou que o projeto do IO estava previsto (no papel) antes do alargamento da praia de Copacabana devido as ressacas que lançavam areia na orla e edificações da região.
De qualquer forma, se não fosse feito o alargamento para evitar as ressacas, o alargamento teria de ser realizado para o interceptor sair da mesa de projeto.
A COPES foi criada para planejar todo o sistema de esgotamento sanitário do Rio de Janeiro. Ligada à SURSAN, a COPES foi um organismo em que os engenheiros que trabalhavam ali visavam nada mais do que estudar, fazer, criar, trabalhar. “Tive muito orgulho em trabalhar ali”, lembra Maurício Gomberg, Engenheiro Civil formado pela PUC, em 1954, com ênfase em grandes estruturas hidráulica e saneamento.
Esclareceu que a COPES existiu através de convênio, tendo representante do Ministério da Saúde e outros órgãos, inclusive de Niterói, recorda Áttila Gonçalves Martins, formado pela Escola de Engenharia da Universidade do Brasil, atual UFRJ, em 1954.
Em 1955, trabalhava na Superintendência de Águas e Esgotos de Niterói (SAEN). Muitos consultores de outros países, inclusive dos Estados Unidos que, a convite do Engº Enaldo Cravo Peixoto, assessoraram a COPES desde quando iniciou em 1957/58 seus trabalhos de planejamento do sistema de esgotamento sanitário, quando ocorreu também convênio por três anos com o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) e o Departamento de Esgotos Sanitários (DES), da SURSAN, para montar um escritório para o pessoal, trabalhando em tempo exclusivo, com equipamento e recursos para realizar esse trabalho.
Quando o antigo Distrito Federal foi transformado em Estado da Guanabara, já em 1960, a SURSAN, o DES e a COPES ficaram vinculados ao novo Estado. E a COPES contou com a participação de profissionais, como o Engº Amarílio Pereira de Souza, já falecido, o Arqº José Carlos Neder , entre outros profissionais.
Órgão pensante
Gomberg e Áttila Gonçalves Martins definem a COPES como “o órgão pensante do saneamento do Rio de Janeiro”, inclusive dando solução ao Interceptor de Esgotos, depois que a cidade herdou os serviços do tempo da City Improvement Company, firma inglesa que vinha desde Dom João VI contratada para fazer o esgotamento sanitário nos pontos importantes da cidade: a orla, o Cais do Porto, onde chegava o pessoal que vinha de navio.
Sobre o Emissário Submarino de Esgotos, Gomberg lembrou que foi “uma contingência do planejamento”, não estando submetido ao grupo formado pela COPES.
Quando o DES respondia pela rede de esgotos, eles convergiam para as elevatórias. E essas elevatórias jogavam os esgotos no mar, ou na Baía de Guanabara, poluindo. Então tinha que tirar esses esgotos porque estavam poluindo as praias.
As redes antigas feitas pelos critérios da City nem sempre eram compatíveis com a necessidade do crescimento da população.
Para o estudo do comportamento das redes, quanto ao seu enchimento, Gomberg e Áttila referiram-se aos estudos do Engº Eugênio da Silveira Macedo, considerado fundamental ao funcionamento do Interceptor de Esgotos. Ele inventou então, nas oficinas do DES, o linígrafo, depois conhecido também por Macedômetro, que funciona como um registrador de nível d’água que existe dentro da tubulação.
Assim, segundo Gomberg, Macedo conseguiu estabelecer, através de medições em diversas bacias de esgotos, Hidrogramas, indicando uma curva que representa o consumo de água com as vazões, as horas do dia. Com os dados, Macedo notou que os hábitos da população eram diferentes, considerando Copacabana, uma zona de praia, em relação a uma popula- ção da Zona Norte:o pessoal vai para a praia, volta, todo mundo toma banho. Então existem os horários de pico, diferentes. Assim, foram obtidos hidrogramas de várias bacias de esgotamento do Rio.
Registrou-se, por exemplo, numa bacia que estava sendo medida e começou a apresentar, em vez de um pique, baixava – não tinha o pique; era mais constante. Fomos ver – deve ter dito um defeito no aparelho. “Fomos verificar se o aparelho estava funcionando direito, registrando: tinha uma bobina de papel, girava o relógio e ia gravando, formando o hidrograma diário, para criar uma média de um hidrograma representativo.
As medições com o linígrafo eram feitas à época, segundo Gomberg, em algumas redes de esgotos de algumas bacias hidrográficas, como Copacabana, Méier e Laranjeiras, mas só na rede.
Direito de Nascer
Constatou-se – uma curiosidade, segundo Áttila e Gomberg -, que as medições refletiam até mesmo o horário da novela O Direito de Nascer, quando se consumia menos água. Esses dados foram comunicados ao Prof. Adilson Seroa da Mota, na Cedae. Na ocasião, foi lembrado que, nos Estados Unidos era considerado como parâmetro, o consumo de água pela população.
Na pesquisa, Macedo verificou, conseguiu através desse nível, medir as vazões que saiam dos edifícios e a tubulação que saia para as redes. Ele conseguiu estabelecer uma coisa muito interessante, diz Gomberg: o que gasta água, água servida e de que forma: vaso sanitário, chuveiro, torneira da pia, enfim , todos os aparelhos de acordo com a hidráulica, o peso que estabelece o consumo que considera também as unidades habitacionais e o número de ocupantes relacionados ao consumo de água e mo chamado consumo simultâneo dos vasos,dos chuveiros, no esmo instante.
Então, Macedo verificou que havia uma influência muito grande da área edificada na formação da vazão de esgotos. Esgotos quem produz é a população. Mas ele verificou que havia uma correspondência entre a área edificada e a vazão instantânea, disse Gomberg.
Esse levantamento permitiu a Macedo estabelecer uma fórmula que ligava a vazão de esgoto, em litros por segundo, à área edificada. Então ele estabeleceu essa correlação da vazão de esgoto com a área edificada em metros quadrados.
Com esse critério, podia-se projetar a rede de esgotos numa determinada área, qual a vazão iria adotar, considerando metro de rua ou por km de rua . Esses estudos fundamentaram a decisão de eliminar elevatórias, diminuindo problemas da redes, um dos princípios que justificou a construção do Interceptor Oceânico da Zona Sul, desde a Glória a Copacabana.
Gomberg detalhou a solução: “O nível de água da rede tinha que ser baixado; e se conseguia isso, por exemplo, Botafogo, Flamengo, Glória, Copacabana, todas essas áreas que você tinha contribuído para as elevatórias, ou para algum ponto determinado; então você sangrava essa água para algum lugar. Sangrava para onde, para o interceptor. Essa foi a grande solução, porque estava jogando os esgotos no mar, em Botafogo, Flamengo, Copacabana. Foi criado o Interceptor Oceânico esse grande sistema.
Como começa na Glória, o trajeto do IO sangrou, por exemplo, na altura das ruas Silveira Martins, Barão | SANEAMENTO | do Flamengo, Machado de Assis; são pontos de entrada no IO. Então ele vai aumentando de tamanho a partir dos bairros que atende.
Evitar elevatórias
Então, a concepção do IO é evitar elevatórias. E em 1961, o Departamento de Esgotos Sanitários (DES), da SURSAN, elaborou um Plano de Obras. A prioridade era o IO, no trecho Glória-Botafogo e o remanejamento da rede do sistema que contribui para esse trecho. É a primeira fase com recursos financeiros do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Depois foi feito o trecho de Botafogo até a elevatória de bomba parafuso, em frente à Rua Almirante Gonçalves, em Copacabana, essa uma elevatória provisória (“aqui no Brasil fica como definitiva”, comentou),” mas até hoje está lá”.
Gomberg explicou o porquê da elevatória provisória, devido ter sido considerado inviável a construção definitiva sob o maciço do Cantagalo por questões geológicas da rocha nessa região. Por isso, os esgotos seguem no IO (galerias com 20 cm de espessura) da Av. Atlântica e daí são recalcados na elevatória de bombas parafuso na Rua Almirante Gonçalves (Copacabana); seguem para a Rua Francisco Sá e depois, na altura da Rua Teixeira de Melo, são lançados ao mar pelo emissário submarino de Ipanema a cerca de 4.325 m da costa, em tubulação de concreto protendido.
Segundo Gomberg e Áttila, o Interceptor Oceânico está dimensionado para atender a saturação urbanística de toda a área que contribui para esse sisema coletor, ou até que toda a região seja construí- da com o máximo de pavimentos que a lei permitir. O IO foi projetado para 2,4 m³/s, para essa vazão.
O interceptor situa-se a 6 metros abaixo do nível do terreno, terminando a 10 metros abaixo. A galeria, além de não permitir a entrada de água do mar de fora para dentro, não pode sofrer corrosão devido ao gás sulfídrico ( H2S) dos esgotos. Esse gás, em contato com o oxigênio que existe acima da superfície da água, gera H2SO4 (ácido sulfúrico), gasoso. Então ele começa a ficar na abóbada superior do interceptor e vai corroendo o concreto.
4 Comentários
O que impede a água do mar entrar no interceptor oceânico?
Não sou técnico mas… Fiquei pensando…
Concluí que a saída do emissário a alguns quilômetro da costa deva ser em um local mais baixo do que o nível do interceptor oceânico. Então a própria ação da gravidade faria com que o esgoto tendesse a descer, saindo pelos “chuveirinhos” da ponta do emissário.
Será???
Parabéns pelo trabalho de preservação histórica.
Como critica (espero que seja tomada como construtiva) faltam as datas das fotos
Acho que minha hipótese anterior não se sustenta… Há a pressão da água do oceano sobre as saídas do emissário…
Imagino que haja bombeamento dos esgotos para o mar…