Palestra Educar em Zona de Conflito
Fundadora do Projeto UERÊ diz que crianças com traumas não tem a inteligência afetada, e sim, o emocional
A coordenadora executiva do Projeto UERÊ, Yvonne Bezerra de Mello, esteve na Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos (SEAERJ) para apresentar a metodologia de ensino às crianças que moram em áreas de conflito armado. A palestra aconteceu na última terçafeira (18/04), contando com a presença do presidente da SEAERJ, Nilo Ovídio, na mediação do debate.
O projeto UERÊ, fundado em 1980, iniciou nas ruas do Rio de Janeiro com grupos de crianças e jovens em situação de rua. As aulas nesta época eram nas calçadas dos bairros como Méier, Madureira, Copacabana e Centro. Após a chacina da Candelária, em 1993, o projeto passou por um processo de expansão. Hoje é uma instituição respeitada no cenário nacional e internacional, servindo como modelo de ensino para crianças traumatizadas pela violência.
— Crianças com problemas de aprendizado devido a causas externas, como traumas constantes, necessitam de métodos especiais para recuperar completamente a memória, explicou Yvonne Bezerra, referindo-se aos maiores fatores que comprometem o aprendizado de uma criança como os bloqueios cognitivos, falhas na alfabetização, problemas emocionais e contexto social e familiar conturbado.
A memória, segundo a fundadora, é muito importante para a eficácia do aprendizado dessas crianças. Ela contou que utiliza métodos como imaginação mais associação para criar experiências reais que aumentam a plasticidade cerebral destes jovens.
— A plasticidade cerebral é a capacidade que nosso cérebro tem de se remodelar em função das experiências que vivenciamos reformulando suas conexões em função das necessidades e dos fatores do ambiente que nos cerca, frisou.
O projeto UERÊ foi também implantado na Suécia quando refugiados do Afeganistão e da Somália. Eram jovens que saiam dos seus países por causa dos conflitos armados. Eles chegavam sozinhos sem contato com a família. Para ela, esses jovens que vivem nesses ambientes semelhantes aos cenários de guerra podem sofrer traumas. Ela defende ainda que o projeto consegue capacitá-las melhor para os desafios da vida quando adapta de acordo com as suas realidades e não com a do país que oferece o asilo.
— As crianças com traumas não têm a inteligência afetada, e sim o emocional afetado, defendeu Yvonne Bezerra já adiantando que o projeto será implementado na Síria nos próximos meses.
O projeto UERÊ está localizado no Complexo de Favelas da Maré desde 1997 e atende anualmente cerca de 430 crianças e jovens de sua comunidade e de comunidades vizinhas, entre seis e 18 anos, que se encontram em situação de extrema pobreza e exclusão social.