Barragem de Brumadinho: caça às bruxas, possíveis causas, consequências e medidas preventivas

Autor: Juliano Lima

Após os acidentes ocorridos em Mariana e Brumadinho, a preocupação com a segurança das barragens de rejeitos de mineração tem sido noticiada, não apenas pela imprensa, como também pela comunidade acadêmica. Os danos causados por acidentes dessa natureza causam prejuízo ambiental, econômico e, principalmente, de vidas humanas.

Não faltam estudos e conhecimentos técnicos para determinação das causas mais prováveis do rompimento desse tipo de barragem. O método construtivo utilizado, no caso da barragem de Brumadinho, foi o de alteamento à montante, cuja característica é justamente o lançamento de rejeitos sobre camadas de mesmo material em processo de adensamento, que lhe servem de fundação, tornando-o mais vulnerável quando comparado aos demais processos.

Em barragens construídas com alteamento de diques à montante, costuma-se verificar ocorrência do fenômeno catastrófico de liquefação estática, situação em que a tensão efetiva do maciço é reduzida a valores que conduzem ao colapso dos diques de alteamento, induzida por acréscimos de poropressões em situações não drenadas. Como consequência desse fenômeno, a barragem é rompida e, com isso, pode-se observar mobilização de grandes volumes de massa de rejeito que passam a se comportar como fluido, se deslocando com alto poder destrutivo, como uma avalanche de lama, com elevado peso específico.

Essa transformação do rejeito em fluido, ora denominado liquefação, é explicada por diversos fatores, como por exemplo, atividades sísmicas, alguns métodos de operação da barragem e tipos de disposição dos resíduos de mineração, gerenciamento inadequado dos níveis de saturação, entre outros fatores de menor relevância.

Assim como as possíveis causas do problema, as medidas preventivas para se evitar esses efeitos são igualmente conhecidas: gerenciamento da manutenção dos dispositivos de drenagem, monitoramento com instrumentação geotécnica, distribuição homogênea dos rejeitos procurando sempre reduzir espaçamento entre locais de deposição, entre outras.

Acredita-se que uma, ou até mesmo algumas dessas causas, pode ter contribuído para o colapso dos diques de alteamento da barragem o que deflagrou a tragédia de Brumadinho, mas fato é que, independente das consequências lamentáveis, o que se espera das autoridades é que se faça justiça, mas somente após avaliação detalhada dos fatos, sem imputar culpados antecipadamente, para satisfazer a revolta popular, como se tem observado.

Mais importante do que caça às bruxas, é se evitar que outros acidentes aconteçam, e isso só será possível após se estabelecer o cumprimento da legislação quanto aos aspectos de segurança das barragens, tornando a fiscalização mais rigorosa e ostensiva e se exigindo das mineradoras mais respeito aos critérios técnicos, que a engenharia geotécnica exige.