NOTA – A crise da água no Estado do Rio de Janeiro
Diante da repercussão na mídia e dúvidas dos consumidores a respeito da qualidade da água fornecida pela CEDAE nessa primeira quinzena do ano de 2020, seguem algumas considerações sobre o tema:
1 – Conforme publicação do Jornal Extra de 15/01/2020, técnicos da Cedae, inclusive o Eng. Julio Cesar Antunes, chefe da Estação de Tratamento de Água do Guandú, sugeriram à direção da Cedae, que interrompesse a captação e abrisse as comportas da barragem da tomada da água por algumas horas para eliminação das algas, evitando a crise provocada pelas mesmas, produtoras da geosmina, que gerou o odor e sabor ruim, apesar de estar dentro dos padrões bacteriológicos do Ministério da Saúde, conforme os resultados iniciais divulgados pela Vigilância Sanitária, segundo reportagem do jornal O Globo, de 08/01/2020;
2 – A demissão de 54 técnicos é um dos fatores que contribuiu para a crise na operação da Estação de Tratamento de Água do Guandú, caracterizando o desmonte promovido pelo Governo do Estado, não só pela demissão dos técnicos de grande experiência e capacidade profissional reconhecida nacionalmente, mas também pela ausência de decisões técnicas e de gestão em saneamento que dessem uma resposta com brevidade a esta crise.
3 – Esta crise também serviu para mostrar à população do Estado do Rio de Janeiro como os nossos governantes nas últimas décadas não investiram em saneamento adequadamente, sobretudo nos Municípios por onde passam os rios que desembocam no rio Paraíba do Sul e seus afluentes, comprometendo enormemente a qualidade da água a ser tratada, que vinha exigindo um esforço cada vez maior por parte da equipe técnica da empresa para a manutenção dos padrões de qualidade.
Atualmente, com o imenso crescimento populacional da região junto a bacia hidrográfica do Guandu, sem o tratamento adequado dos esgotos, dos despejos industriais e com invasões de áreas de preservação ambiental dos 15 municípios que compõem a bacia, ocorre uma enorme poluição na tomada de água bruta.
As obras de transposição desses rios afluentes, como Queimados, Poços e Ipiranga que chegam na tomada d’água são indispensáveis e emergenciais, como solução a curto prazo.
4 – Quanto à privatização da Cedae, uma empresa pública de saneamento tem por objetivo prestar serviços de boa qualidade, na maioria das vezes aplicando o chamado subsídio cruzado, no qual uma classe de consumidores paga um preço mais elevado para subsidiar um outro grupo, o que viabiliza os serviços na totalidade dos municípios, mesmo naqueles que não possuem capacidade de manter a prestação destes serviços. Por outro lado, havendo a concessão dos serviços de saneamento para empresas privadas, estas visarão somente o lucro, sem a preocupação com o aspecto social.
Nas duas últimas décadas, cerca de 270 cidades na Europa e nos Estados Unidos vêm reestatizando os serviços de distribuição de água e saneamento. Os motivos são inúmeros, dos quais podemos ressaltar o aumento desproporcional de tarifas, abandono de populações de baixa renda e de baixa densidade populacional, descumprimento de cláusulas dos contratos de concessão e até a má qualidade da água fornecida. O Rio de Janeiro está pretendendo fazer exatamente um movimento inverso do que vem acontecendo no mundo.