Tragédia que atingiu Petrópolis poderia ser evitada com investimento do Poder público e a valorização dos profissionais especialistas
A tragédia que atingiu o município de Petrópolis infelizmente não é a primeira, mas poderia sim, ser a última. Para isso basta que o poder público acione os profissionais que têm capacidade técnica para prever e executar as ações necessárias, com investimento adequado na região.
Contenção de encosta, planejamento urbano, sistema de drenagem e coleta de lixo são medidas extremamente necessárias para se evitar uma calamidade pública como a que vimos em 2022, e em vários outros períodos da história do Rio de Janeiro.
Os estragos das últimas chuvas ainda não foram 100% computados, mas esta já é a pior tragédia da história de Petrópolis. Em 1988 e em 2011, as chuvas atingiram fortemente a região serrana, anos depois ainda existem pessoas desaparecidas.
A ocupação irregular em Petrópolis cresceu 108% nos últimos 35 anos, de acordo com levantamento feito a pedido do G1 pela MapBiomas com base em imagens de satélite e dados do IBGE.
A expansão da ocupação irregular continuou a crescer mesmo após grandes tragédias. A área construída no município sobre esses locais em 1985, três anos antes de uma das maiores tragédias já registradas na história da cidade, era de 198,7 hectares. Em 2020 – último ano com dados atualizados –, essa ocupação passou para 414,9 hectares (aumento de 108,81%).
As chuvas, as mudanças climáticas e a ocupação desordenada, impermeabilizam o solo aumentando os riscos de deslizamentos e desabamentos. A população desassistida não vê alternativa que sane a questão da moradia, por falta de uma política habitacional. Por isso, ocupa locais de alto risco como encostas e margens de rios.
Segundo o governo do Rio de Janeiro, as chuvas de fevereiro de 2022 foram as piores já registradas na cidade desde 1932. A quantidade de chuva surpreendeu, mas a prefeitura já sabia que diferentes pontos da cidade corriam risco de deslizamento, enchente e inundação. O Plano Municipal de Redução de Riscos, elaborado em 2017, indicava que 18% do território de Petrópolis estava sob risco. Segundo o Cemaden, foi ainda enviado um alerta de “evento meteorológico muito intenso” 2 dias antes das chuvas.
Tudo isso caracteriza o despreparo do poder público para evitar tragédias, mesmo com os inúmeros alertas da comunidade científica. A Seaerj como entidade representativa dos engenheiros e arquitetos do Rio de Janeiro, mais uma vez traz à tona a importância de se valorizar os profissionais que possuem capacidade técnica para prever e atuar nestas situações.
Isabel Tostes, presidente da Seaerj chamou atenção para o descaso do governo que não adotou medidas preventivas para a região. “Junto com a tristeza da tragédia de Petrópolis, há também um sentimento de revolta! Hoje existem planos, estudos, mapeamentos, diagnósticos e instrumentos que evitariam os terríveis fatos que assistimos. Tantas vidas perdidas, memórias apagadas pela não aplicação do conhecimento. Choveu muito mas os danos poderiam ter sido minimizados se houvesse da parte do(s) poder(es) público(s) uma atuação e gestão planejada. Uma tragédia no ano em que comemora a Rio+30 é no mínimo angustiante.” declarou a presidente.
A Lei 11.888/2008 assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e construção de habitação de interesse social e estabelece diretrizes para os estados e municípios para implementação de uma política de assistência técnica para moradia de interesse social. Os profissionais capacitados para desempenharem este papel são os engenheiros, urbanistas e arquitetos. Porém não há ampla divulgação da legislação.
Daqui 10, 20, 30 anos o cenário não pode e não deve se repetir, para isto a solução é simples. Olhem com atenção e ouçam os profissionais capacitados, engenheiros, geólogos, ambientalistas, e demais membros da área. São necessários investimentos em obras de contenção, em estudos de solo, e principalmente valorização dos profissionais que podem evitar tamanha dor e tragédia.