Seaerj realiza Mesa de Debates para discutir possibilidades e soluções para a região de Petrópolis
A Seaerj recebeu em sua sede na última quarta-feira (04) uma mesa de debates, a fim de discutir possíveis soluções para a região de Petrópolis, diante das fortes inundações que ocorreram na cidade, em fevereiro deste ano.
O evento contou com a presença dos engenheiros e sócios da Seaerj Morvan Nobre e Flávio Coutinho, com o Técnico da Diretoria de Recuperação Ambiental (DIRAM) do INEA, João Vicente de Mattos, com a participação remota de Ricardo Rosado, também técnico do DIRAM, e de Renato Stefani, Técnico da Superintendência Regional Piabanha (SUPPIB).
O engenheiro aposentado pela CEDAE, Flávio Coutinho começou a explanação citando dados de ocorrências locais, e noções básicas de hidrografia. Ele demonstrou como o Rio Quitandinha, principal da cidade, corre e algumas possibilidades de desvios e melhorias no sistema hidráulico.
Por meio de desenhos, Flávio mostrou como novas formas de posicionamento e como novas tubulações poderiam ajudar a evitar novas inundações. O engenheiro aproveitou para comparar com as obras de um grande reservatório em andamento,em São Paulo. O local conta com o triplo da capacidade do que seria implantado em Petrópolis e tem custo relacionado em aproximadamente 150 milhões.
Segundo levantamento da FIRJAN, os estragos das chuvas de 15 de fevereiro na cidade geraram prejuízo estimado em R$ 665 milhões. Por isso, Coutinho defende que haja uma mudança na forma de pensar e agir na região, visando também a economia. Ele abordou possibilidades de execução de um projeto voltado para os reservatórios, que impediriam novas inundações, e usou exemplos circunstanciais de como realizar.
Em seguida, o engenheiro Morvan Nobre iniciou sua fala abordando as ações que a Rio Águas realizou no entorno da cidade, e sobre o diagnóstico feito na Bacia inteira do local, a fim de identificar o problema, as restrições hidráulicas, e procurar a solução. Ele esclareceu as funções de cada área da bacia hidrográfica, e exemplificou o que ocorre quando as chuvas mais intensas caem na região. Morvan mostrou como um túnel de elevação poderia ajudar a sustentar e reduzir as chances de danos. Ele apresentou três túneis de extravasamento possíveis, que ajudariam o Rio Quitandinha a desafogar melhor. Ele frisou a importância da realização dos diagnósticos de cada trecho da Bacia. Segundo ele, só dessa forma haveria soluções a longo prazo, e consequentemente a solução final do problema.
Segundo o técnico da DIRAM, João Vicente de Mattos, todo o corpo técnico do Inea está muito empenhado em tentar trazer essas soluções para a prática. Ele agradeceu o convite, afirmou que o Inea está assumindo papel de ouvinte, e iniciou sua apresentação falando dos impactos de eventos climáticos, que vêm provocando tragédias dolorosas. Para ele é necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre o meio ambiente e o planejamento de cidades. A recorrência das chuvas já é um ponto de discussão, e novas premissas de metodologia de recorrência das chuvas estão sendo trabalhadas por membros da academia. Ele relembrou que em 2008 outra tragédia parecida aconteceu, na mesma região, e citou algumas das providências tomadas. Segundo ele, houve um grande investimento do governo federal e uma série de projetos. O histórico de atuação foi bastante intenso.
Ao longo dos últimos 10 anos o Inea tem atuado na manutenção das calhas dos rios, embora seja longe do suficiente, foi a medida possível. O programa do Inea em parceria com a Secretaria de Estado e Ambiente é realizado há mais de 10 anos e visa manter um cronograma de limpeza dos rios. As questões passam pelo saneamento, ordenamento de cidades, e na prática esta é a única ferramenta para contribuir.
Para além das ações de limpeza, desde 2017 existe a elaboração de um contrato para estudar os rios, e a bacia, que foi interrompido por questões legais. O técnico afirmou que a meta é retornar e fazer um olhar mais amplo da área, para que medidas mais efetivas se concretizem. Ele fez um apanhado geral de novas ações que o Instituto pretende aplicar. Novos estudos e diretrizes serão encaminhados e discutidos com profissionais da área.
A palavra foi passada ao técnico da SUPPIB, Renato Stefani, que iniciou relatando as ocorrências causadas pelas chuvas anteriormente, e reiterou que não se pode esquecer do que cada uma mostrou em termos técnicos. Ele afirmou como técnico e cidadão, que ainda vê movimentação por parte do estado, mas que a falta de interesse do poder municipal de Petrópolis durante os últimos anos é gritante. Ele frisou que a alternância de poder e falta de interesse em dar continuidade em projetos para contenção de danos são os grandes causadores de tanta ineficiência e descaso. Ele aproveitou para fazer uma ressalva acerca das explanações anteriores, sobre a possibilidade de expansão urbana da cidade imperial. Segundo ele, enquanto morador da região, há maneiras de fazer o crescimento da cidade acontecer, principalmente visando a população menos assistida.
Os distritos da cidade são mais isolados e remetem a ideia de serem outro município enquanto não são. Para ele é importante ver que existem pessoas mobilizadas para dar grandes ideias, e sua expectativa é que a resposta do governo do estado esteja no nível de aptidão necessária. A projeção de Renato é de que catástrofes como essa voltem a acontecer em curto prazo, já que a solução definitiva está distante.
O último integrante da mesa a falar foi Ricardo Rosado. Ele iniciou sua apresentação complementando seu amigo no sentido de que os grupos técnicos criados pelo Ministério Público estão buscando soluções, mas que na prática não se mostraram dispostos a correr riscos ainda. Por mais que o estado e a União forneçam recursos, o poder municipal precisa atuar para que a execução não seja prejudicada. Relocação do trânsito, desapropriações, dentre outras questões preocupam os técnicos, e podem atrapalhar possíveis soluções. Os estudos estão sendo avaliados, e o que causar menos transtornos, e for decidido em comum acordo com a população, será realizado.
O debate seguiu, e a presidente Isabel Tostes colocou a Seaerj, seu quadro de profissionais e as instalações inteiramente à disposição do Inea. Foram abordados temas como visitas técnicas e grupos de debate formados pelo MP. Isabel se solidarizou com o trabalho dos técnicos ali presentes, e citou sua experiência com órgãos do estado e município.
Os palestrantes esclareceram dúvidas dos presentes, e debateram a importância da ação rápida e precisa, nessa região que sofre constantemente com o mesmo problema. A questão do poder público e a conclusão do diagnóstico da bacia hidrográfica são os pontos principais para a solução da questão. Para finalizar, a pergunta mais importante, presente no título do evento: Existe solução? Segundo os integrantes da mesa, sim, existe.
No entanto, a execução precisa de muito empenho e discussão, além de recursos e interesse público. A presidente da entidade encerrou o evento e agradeceu as colocações e presenças. A mesa de debates foi gravada e está disponível no Youtube da Seaerj, no link: