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A CASA DE MÁQUINAS E A ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DA GLÓRIA

Ao iniciar-se o século XIX, as condições sanitárias da Cidade do Rio de Janeiro eram muito precárias, em decorrência da falta de um adequado sistema de esgotos e de drenagem pluvial.

Tendo decidido construir esses serviços, que eram reclamados, com veemência, há longo tempo, por autoridades sanitárias e pela própria opinião pública, o Imperador D. Pedro II mandou estudar o projeto dos esgotos sanitários e pluviais na Inglaterra, existindo dele plantas, de autoria do engenheiro Eduardo Gotto, no Arquivo Nacional, na Biblioteca Nacional e da CEDAE, datadas do período 1853/63.

A Lei 719/1853 autorizou o Governo a contratar os serviços com “JOHN FREDERIC RUSSELL ou outro qualquer”. Mais tarde, em 1857, foi celebrado contrato com Russell e seu sócio, Joaquim Pereira Vianna de Lima Júnior, para fazer “o serviço da limpeza das casas e do esgoto das águas pluviais”, com prazo de duração de 90 anos.

Esse contrato foi transferido, em fevereiro de 1862, para a
“THE RIO DE JANEIRO CITY IMPROVEMENTS COMPANY L TD”, constituída em Londres, por Mr. Gotto.

A área a esgotar foi dividida em 3 Distritos, o da Glória (3º). o da Gamboa (2º) e o do Arsenal (1º).

Acontece, entretanto, que o local escolhido para o 3.0 Distrito, o da Glória, onde hoje se encontra a sede da SEAERJ, ainda não existia, tendo o Governo de autorizar a City, em fins de 1863, a aterrar o mar, para “criar” o terreno necessário às obras projetadas.

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A City iniciou seus trabalhos contratuais em junho de 1863, concluindo as obras da Glória, em 1864, as da Gamboa, em 1865 e as do Arsenal, em 1866.

Foi no Distrito da Glória que as obras começaram, sendo construído, entre outros, um prédio de 2 pavimentos, em alvenaria de pedra, que tinha uma “Casa de Machinas” no térreo e uma “Estação de Tratamento”, no 2º pavimento.

A Cidade do Rio de Janeiro foi a 2ª do mundo, como Capital (depois de Londres) a possuir serviços de esgotos sanitários e pluviais, que viriam a se constituir em uma das mais importantes obras públicas, realizadas no reinado de D. Pedro II.

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Segundo consta do relatório apresentado pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Manoel Pinto de Souza Dantas, de 1868, relativo ao exercício anterior, o esgotamento sanitário e pluvial da Cidade do Rio de Janeiro, executado, pela Citv, foi “um melhoramento que a coloca entre as mais importantes cidades do mundo”.

A inauguração do Distrito de Esgotos da Glória foi um empreendimento de inusitada importância para o, Rio Imperial de meados do século XIX, face ao vulto financeiro, e à complexidade das obras que o caracterizavam, à qual compareceram o Imperador D. Pedro II e seu Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Domiciano Leite Ribeiro, Visconde de Araxá. Como o nosso governo era monárquico, é presumível que nobres e fidalgos tenham acorrido ao local, pressurosos em acercarem-se do Imperador que, pessoalmente, prestigiava o acontecimento.

O bairro da Glória viveu, certamente, um dia glorioso, com as adjacências do 3º Distrito tomadas pela carruagem imperial e outras viaturas típicas da época, olhadas com interesse e curiosidade pelo povo.

Ali foi dado início a um grande empreendimento técnico, de nítido interesse social, que representaria, até abril de 1947, um investimento de cerca de 3,4 milhões de libras esterlinas, que visava preservar a saúde e o bem estar da população.

A “Casa de Máquinas” e a “Estação de Tratamento” da Glória atendiam a uma área de 158 Ha; em que se encontravam os simpáticos bairros residenciais de Laranjeiras, Silvestre, Santa Tereza, Glória, Flamengo e Catete, acrescidos de parte da zona da Lapa, Praia de Santa Luzia e arredores, até as ruas Senador Dantas, Evaristo da Veiga, Francisco Belizário e Costa Barros.

A “Casa de Maquinas” foi equipada com 2 máquinas a vapor, uma de 20 Hp e a outra, de 8 Hp, com capacidade conjunta para recalcar 102 m³/h.

O equipamento foi montado em sólida base de concreto, num recinto que media 5,40m x 17,94 m, onde funcionou durante 47 anos, até 1911, quando o Governo determinou que as máquinas a vapor fossem substituídas por. bombas, acionadas por motores elétricos. Para cumprir essa exigência, a City instalou novos equipamentos na área externa, fora do prédio principal, que foram os seguintes:

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2 bombas helicoidais de 15″ e 1020 m³/h de descarga cada uma, conjugadas a motores elétricos de 50HP cada;

1 bomba helicoidal de 12″ e 720 m³/h de descarga, conjugada a motor elétrico de 35HP

2 bombas de vácuo, conjugadas a motores elétricos de 1HP;

2 bombas helicoidais, conjugadas a motores elétricos de 2HP

Houve, como se vê, um considerável aumento da capacidade de recalque do sistema elevatório, que passou de 102m³/h, em 1864, para 1.740m³/h, em 1911.

A “Estação de Tratamento” da Glória dispunha de 4 tanques de decantação do afluente sanitário, com volume total de cerca de 960m³ e per rodo de retenção de 69min. Eram tanques retangulares, de chapas de ferro fundido, dispostas longitudinalmente, no 2º pavimento do prédio principal do Distrito. Suas dimensões eram as seguintes:

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A caldeira a vapor, a chaminé de tiragem dos gases e demais acessórios foram desativados e removidos do Distrito, sendo mantidas apenas as bombas a vapor, fabricadas em 1862, pela firma inglesa James Wan & Co., com sede no Distrito de Soho, em Birmigham. Esse equipamento era o que havia de melhor àquela época, pois que eram refinados produtos da revolução industrial desencadeada na Inglaterra, em fins do século XVIII, graças aos trabalhos desenvolvidos por James

Watt (1736-1819), famoso engenheiro escocês, inventor da máquina a vapor.

A caldeira foi trazida para o Brasil na mesma época que as bombas, mas não há informações disponíveis sobre seu fabricante e suas características mecânicas.

O antigo Distrito da Glória, com suas construções peculiares, está muito bem representado no grande painel fotográfico que ornamenta uma das paredes da sala onde se encontram as bombas a vapor.

Confrontando-se a urbanização, que existia à época da foto do Distrito, de 1898, com a atual, pode-se verificar que foram profundas as alterações ocorridas nas áreas que circundam seu pequeno terreno, que tem apenas 2.772 m² de área.

Quando os contratos da City terminaram, em 1947, os serviços de esgotos foram transferidos para a antiga Prefeitura do Distrito Federal, sendo incorporados à estrutura do extinto DAE. As diversas administrações desse Departamento e as do DES, que o sucederam, em 1956, mantiveram instaladas as bombas a vapor deixadas pela City.

Na década de 50, houve várias obras no Distrito da Glória, assim resumidas:

Substituição das bombas helicoidas da City por 4 bombas centrifugas, com potência global de 900HP, e 7.560 m³/h de vazão (1955);

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Construção de um laboratório de análises no andar térreo do prédio das bombas a vapor (1957);

Instalação da Comissão de Planejamento de Esgotos Sanitários (COPES), no 2º pavimento do mesmo prédio (1958)

Na década de 60, as instalações do Distrito da Glória estiveram ocupadas pela COPES, pela Diretoria do antigo IES e pela ABES, a qual ar instalou a Comissão Organizadora do I Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária, realizado na PUC, em julho de 1960.

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Em 1970 as instalações da Glória foram cedidas à SEAEG, antecessora da SEAERJ. Essas associações de classe fizeram sucessivas obras de ampliações e melhorias, a fim de atender às crescentes necessidades dos serviços a serem prestados a seus associados.

Seguindo o procedimento da Citv, do DAE e do DES, a SEAEG e a SEAERJ preservaram, também, com todo o esmero, o precioso legado histórico de 1862, que é esse sólido conjunto de bombas a vapor, que está retratado nas fotografias que integram o folder organizado pela SEAERJ.

As obras realizadas pela SEAEG pela SEAERJ, em épocas diversas, tiveram sempre o cuidado de realçar as bombas criando, para isso, condições que as deixassem bem acessíveis a todos quantos demandassem o restaurante. Esta tem do uma orientação louvável, que enaltece a classe de engenheiros, a qual demonstra possuir apreço e admiração pela boa tecnologia que foi adotada há 128 anos atrás, na implantação dos serviços esgotos da Cidade do Rio de Janeiro, cuja memória merece ser resgatada e divulgada sempre que possível.


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